Nossa Essência

Entrevista com o Presidente do Conselho de Administração

José Luciano Penido

Comprometidos com as mudanças

Na sociedade contemporânea, é cada vez mais relevante que as empresas atuem como parte da solução para os desafios sociais e ambientais. Qual a contribuição da Fibria para isso?
A Fibria sempre se posicionou como uma empresa dedicada a gerar valor econômico, social e ambiental a partir da floresta plantada. Nós trabalhamos com sequestro de carbono e emissão de oxigênio. As florestas protegem e regulam os ciclos de chuva, o que traz maior equilíbrio ao meio ambiente, favorecendo a biodiversidade e a produção de alimentos. Oferece, portanto, um conjunto tão positivo que, de longe, supera as externalidades negativas que toda indústria tem. Matéria-prima – mineral, vegetal ou fóssil – sempre será necessária no desenvolvimento de produtos, e a vegetal é a única que se mostra sustentável ao longo do tempo. Por isso, a indústria de base florestal destaca-se como parte da solução para as adversidades causadas pelas mudanças do clima.

“Realizamos projetos em parceria e mantemos diálogo permanente nos 257 municípios onde operamos. Isso é o que eu chamo de tecnologia social”

E o aspecto social, como é tratado na atuação da Fibria?
Esta é uma característica importante da companhia: a habilidade de se aproximar de parcelas da população muitas vezes carentes de acesso à educação e à saúde e com poucas noções de cidadania e cooperativismo. Hoje, realizamos projetos em parceria e mantemos diálogo permanente nos 257 municípios onde operamos. Isso é o que eu chamo de tecnologia social da Fibria, algo que levamos tempo para construir e que é muito difícil de ser copiado.

José Luciano Penido, presidente do Conselho de Administração. Foto: Márcio Schimming.José Luciano Penido, presidente do Conselho de Administração. Foto: Márcio Schimming.

A Fibria já é percebida pela sua diversificação de produtos e serviços ou ainda é vista apenas como uma fabricante de celulose?
Somos percebidos pelo nosso principal negócio, a celulose, e vamos continuar a produzi-la. Só em 2016, tivemos dois grandes desafios nessa área, e em ambos fomos bem-sucedidos: operacionalizar o contrato de venda da produção da Klabin no exterior, um modelo inédito entre duas fabricantes de celulose, e garantir o bom andamento das obras de expansão de Três Lagoas, que a partir de 2017 passa a entregar mais 1,95 milhão de toneladas por ano. As pessoas continuarão necessitando de papéis para higiene, livros, cadernos. Porém, para resolver questões futuras de bem-estar da população, teremos todos de mudar nossos hábitos. E, nesse aspecto, a Fibria investe em diversificação. Nossos maiores desafios nos próximos 10, 20 anos, são tecnológicos. Em nossas pesquisas e desenvolvimentos, que abrangem nanotecnologia e aplicações para lignina, o projeto mais avançado é de bio-óleo. Estamos em fase final de testes e, em breve, estaremos prontos para a escala comercial.

Como a crise política e econômica do Brasil impactou a companhia?
A rigor, temos de fazer uma constatação: pela primeira vez em nossa história, a corrupção está sendo passada a limpo. Agora, não existe um cenário em que tudo está ruim e você está bem. Dentro de certos limites, quando o país fica instável, a taxa de câmbio sobe e favorece as empresas exportadoras, como a nossa. Mas isso é dentro de limites muito estreitos, pois uma situação de retrocesso econômico, agravada por escândalos de corrupção, causa um desastre enorme de confiabilidade no Brasil.

“A companhia tem em caixa o que necessita para honrar seus compromissos até 2019. Temos um custo de capital bastante competitivo, fruto do reconhecimento do mercado de que somos uma empresa sólida”

E como foi o desempenho do negócio?
Para a Fibria, 2016 foi um ano em que reafirmamos nossa posição de maior produtor mundial de celulose. Em um momento extremamente delicado para investimentos no país, seguimos como investment grade e mantivemos o Projeto Horizonte 2 rigorosamente dentro do cronograma e do orçamento. Entramos numa fase natural de uso do nosso limite de endividamento. E a companhia tem em caixa o que necessita para honrar seus compromissos até 2019. Temos um custo de capital bastante competitivo, fruto do reconhecimento do mercado de que somos uma empresa sólida, que desde sua origem estabeleceu uma gestão prudente e austera, pautada por políticas de boa governança, transparência e foco em sustentabilidade.

Qual a importância da criação da Diretoria de Governança, Riscos e Compliance?
A criação da nova diretoria é consequência de um trabalho iniciado há alguns anos. Um dos aspectos mais difíceis de tratar na pauta de diretorias e conselhos de Administração é a análise do que pode dar errado, porque a tendência é ser otimista, sobretudo quando há dinheiro e competência. Porém, os ventos podem soprar contra. A Fibria construiu um processo muito disseminado internamente, e é hoje uma das empresas brasileiras que mais sabem avaliar riscos. Cada área do negócio possui grupos de trabalho analisando os riscos daquela atividade, que, somados, nos mostram o que é relevante e a probabilidade de ocorrência. Por meio de uma matriz, conhecemos os top risks da empresa e como estão sendo administrados. Tudo isso exige muita dedicação das equipes, mas os resultados são transformadores. Temas que já nos preocuparam muito, como riscos em transporte de madeira, pragas, secas ou abundância de chuvas, estão bem equacionados graças à nossa atuação em governança, riscos e compliance. Sempre tivemos dúvidas sobre como dar o maior destaque possível a essa área. Então, definimos que a nova diretoria se reporta administrativamente ao presidente Marcelo Castelli, a mim e ao Comitê de Auditoria Estatutária – com membros independentes acompanhando a atuação nessa área.

A Fibria é a maior produtora global de celulose. Como a companhia exerce essa liderança?
Temos procurado exercitar a liderança no setor florestal no cenário nacional e internacional. No Brasil, somos membros da Coalização Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que soube colocar partes opostas para negociar e definir 17 pautas prioritárias sobre o uso da terra no país. No exterior, a Fibria assumiu a liderança de alguns temas, como mudanças climáticas. Somos consultados mesmo quando o assunto não é nossa especialidade, como o manejo sustentável da floresta amazônica. A Fibria não atua na Amazônia, não tem essa expertise, mas sabe formular lógicas econômicas, sociais e ambientais a partir de seu conhecimento em florestas, incluindo a conservação e a recuperação de matas nativas e o relacionamento com todas as partes envolvidas. A sociedade já percebe que temos uma proposta socioambiental consistente. E nossa opinião passou a ser respeitada em questões de grande relevância, como certificações florestais e reforma agrária.

“A solução dos problemas mundiais passa por novas tecnologias e mudanças de hábito. As pessoas precisam começar a admirar estilos de vida diferentes e produtos feitos com novos materiais”

Quase um ano se passou desde a COP-21, e o Acordo de Paris entrou em vigor. O que muda para o setor florestal e para a Fibria?
No curto prazo, nada muda. O que ficou é a certeza de que finalmente a sociedade mundial reconheceu que tem pouquíssimo tempo para mudar. É praticamente nula a chance de estabilizar a temperatura da terra em dois graus centígrados. É mais provável que seja entre três e quatro graus. Portanto, considero que foi rápido reunir, em menos de um ano, as assinaturas de países que somam mais de 55% das emissões globais. Por outro lado, não vejo uma clara disposição dos governos em tomar atitudes mitigadoras de fato. Mas devemos comemorar o Acordo de Paris, pois faz com que indústrias do setor florestal tenham mais senso de urgência no desenvolvimento de produtos e serviços alinhados a uma economia de baixo carbono. A solução dos problemas mundiais passa por novas tecnologias e mudanças de hábito. As pessoas precisam começar a admirar estilos de vida diferentes e produtos feitos com novos materiais. Por isso, acho que a Fibria está no lado positivo da mudança – dando ênfase à tecnologia, à criatividade das pessoas, e cuidando para que seu quadro de empregados seja o mais diverso possível, porque o mundo do futuro será muito diferente do nosso.