Nossa Essência

Entrevista com o Presidente

Marcelo Castelli

Liderar pelo exemplo

Como a Fibria faz diferença no mercado?
Queremos fazer a diferença estabelecendo os melhores padrões em nossas florestas plantadas, conservando e restaurando as matas nativas, bem como buscando a maior eficiência nas nossas operações industriais e de logística. Tudo isso, porém, sem descuidar dos nossos compromissos com o diálogo e a criação de valor para nossos públicos. Afinal, oferecemos celulose de alta qualidade, preço adequado e produzida com sustentabilidade. Somos os maiores produtores mundiais de celulose de eucalipto, mas também queremos liderar pelo exemplo.

Marcelo Castelli, presidente. Foto: Márcio Schimming.Marcelo Castelli, presidente. Foto: Márcio Schimming.

O jeito Fibria é percebido pelas comunidades vizinhas às operações?
Uma de nossas Metas de Longo Prazo tem como foco exatamente a percepção das comunidades sobre o jeito com que fazemos as coisas. No último levantamento, os resultados mostraram que as pessoas reconhecem a Fibria como uma empresa que cumpre o prometido e que se preocupa com os interesses das comunidades vizinhas. Isso nos deixa confiantes de que estamos no caminho certo, mas sabemos que há muito a fazer. Por isso, estamos sempre construindo uma empresa transparente, confiável e pronta para o diálogo aberto. A meta estabelece que devemos atingir 80% de aprovação em 2025. A última pesquisa, realizada em 2016, apurou um índice de favorabilidade de 70,6%. Mas queremos ir muito além. O como é tão importante quanto o que se faz.

“Os clientes sabem que a nossa proposta de valor passa pela capacidade de entrega com qualidade, mas também por um compromisso socioambiental inabalável”

E quanto aos clientes?
Construímos dia a dia uma relação que vai além do aspecto comercial. Queremos, por exemplo, que nossa área de sustentabilidade converse com a área de sustentabilidade dos clientes, que nosso financeiro converse com o financeiro deles. Desejamos aprofundar o relacionamento das pessoas envolvidas nos dois lados. Além disso, eles sabem que a nossa proposta de valor passa pela capacidade de entrega com qualidade, mas também por um compromisso socioambiental inabalável. Chegamos até mesmo a receber alguns clientes para nos conhecer mais a fundo, para visitar nossas operações e conferir nossos investimentos sociais. O nosso negócio não é apenas plantar árvores e produzir celulose. Nosso negócio é crescer junto com os nossos clientes por meio de projetos conjuntos.

Como avalia o relacionamento com os grupos de luta pela terra e os quilombolas. Houve avanços?
Relacionamentos duradouros sempre passam por oscilações. Saímos de um estado de confronto e conflito para um estado de cooperação e geração de valor conjunto. Endereçamos assuntos, criamos o diálogo e construímos um modo de agir. O nosso relacionamento com o MST está estruturado e funciona. Agora, o ambiente social do país se transformou. Ventos mudam e dificultam a relação. Então é preciso reafirmar aspectos do nosso acordo e dar continuidade ao que vem sendo construído. Sobre os quilombolas, vamos desenvolver o Programa de Desenvolvimento Rural Territorial (PDRT), gerando oportunidades e riqueza e, sobretudo, melhorando o nosso relacionamento. Estamos abertos ao diálogo com os quilombolas para buscar uma solução possível para essa questão territorial, a exemplo da que construímos com os movimentos de luta pela terra.

“Para agregar valor, é preciso entender a perspectiva não só do nosso cliente, mas do mercado em que ele atua, do cliente do nosso cliente”

Como a empresa está se organizando para enfrentar o aumento de oferta de celulose no mercado global em 2017?
Tudo o que construímos nos permite ter resiliência em momentos de estresse do mercado. Não haverá uma limitação de venda, mas, sim de preço. Como alguns clientes já enxergam a nossa proposta de valor, agora é a hora de termos a preferência deles. Nossa conduta socioambiental e a qualidade de nossos serviços são atributos valorizados. Ainda não temos um diferencial completo para mudar essa dinâmica. A alternativa é navegar bem e não perder o relacionamento construído com o cliente. Não é porque o mercado está muito estressado que vamos deixar de fazer aquilo em que acreditamos. Queremos ir além e, para tanto, resgatamos o conceito do foco do cliente. Para agregar valor, é preciso entender a perspectiva não só do nosso cliente, mas do mercado em que ele atua, do cliente do nosso cliente, criando confiança para desenvolver projetos em conjunto.

O que está por vir em inovação?
Buscamos novos negócios a partir da floresta plantada e em complemento à celulose. Parte dos novos produtos em bionegócio destina-se a segmentos diferentes do nosso, ou seja, estão conectados à indústria petroquímica, por exemplo. Outra parte das iniciativas em inovação fortalece o mercado de celulose, no qual atuamos, como é o caso da nanocelulose. É por meio desse portfólio que os clientes têm se aproximado da companhia, a fim de estudar conosco eventuais colaborações. Há ainda uma centena de novos desenvolvimentos, novas conexões e novos mercados que queremos abrir. É nessa hora que a reputação da companhia ajuda sobremaneira, pois o risco de entrada é muito menor.

“No momento em que o desemprego penaliza tantas famílias brasileiras, chegamos a ter mais de 8 mil trabalhadores em atividade em nosso canteiro de obras. Três Lagoas, em 2016, foi a cidade que mais gerou empregos no Brasil”

Como é realizar uma obra do porte do Projeto Horizonte 2, um dos maiores investimentos privados no Brasil em 2016, em um momento de crise econômica, desemprego e pressão social?
A obra de ampliação da nossa unidade em Três Lagoas (MS) é um marco para a Fibria, para a cidade, para a região, para o estado e para o Brasil. Um projeto desse tamanho gera milhares de empregos e promove o desenvolvimento econômico, tanto local quanto nacionalmente. No momento em que o desemprego penaliza tantas famílias brasileiras, chegamos a ter mais de 8 mil trabalhadores em atividade em nosso canteiro de obras. Três Lagoas, em 2016, foi a cidade que mais gerou empregos no Brasil, e nós temos muito orgulho de termos contribuído para isso. Mas sabemos dos impactos causados por um empreendimento desse tamanho, como aumento do fluxo migratório para a cidade em busca de empregos e pressão nos serviços públicos. Para fazer a gestão de riscos da obra, criamos mecanismos como o Grupo de Trabalho Sustentabilidade e Compliance. Esse grupo reúne os principais fornecedores da obra, com representantes das áreas da Fibria diretamente vinculadas ao empreendimento, e cuida de temas variados, desde a questão de saúde até o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. Diálogo, transparência, envolvimento, agilidade, parceria, construção conjunta e coragem para enfrentar as situações difíceis fazem parte do nosso dia a dia. Tem sido assim até agora. E é dessa forma que esperamos chegar até a conclusão de Horizonte 2.

Para uma empresa que preza pela excelência em segurança e tem o compromisso de zerar a fatalidade em suas operações, como lidar com os falecimentos ocorridos em 2016?
Estamos extremamente frustrados e tristes com os falecimentos. Mas temos convicção da consistência do nosso trabalho em prol da segurança. Os especialistas afirmam que conseguimos reduzir a probabilidade de fatalidades. Mas, infelizmente, elas ocorreram em 2016. Fortalecemos os protocolos de maior risco em nossa gestão de saúde e segurança, e estamos conseguindo boa performance. Os acidentes com e sem afastamento vêm caindo gradativamente. O Projeto Horizonte 2 é um bom exemplo. São mais de 13 milhões de horas trabalhadas, com pico de mais de 8 mil pessoas na obra simultaneamente, sem fatalidades e com registro de acidentes com afastamentos de gravidade baixíssima. Então, a saída é continuar trabalhando em comportamento, na cultura da companhia e no coletivo, incluindo a participação das famílias nessa discussão.

Como será a Fibria daqui a dez anos?
Temos algumas aspirações. Queremos dobrar de tamanho em produção de celulose, com crescimento orgânico, consolidações e contratos comerciais semelhantes ao que firmamos com a Klabin. Estamos trabalhando também para oferecer produtos diferenciados, com o foco no foco do cliente. Em diversificação, nosso propósito é desenvolver um portfólio de produtos e serviços renováveis, sem conexão com o conceito de commodity. No aspecto institucional, por fim, o objetivo é moldar uma companhia cada vez mais ágil e de alto nível reputacional, para justamente nivelar a competição local e global em padrões mais elevados.